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sábado, 12 de março de 2016

Polícia apreende mais de 24 adolescentes por dia no Ceará

Adolescentes que cometem delitos mais graves são remetidos a centros educacionais para cumprir medida de privação de liberdade

Em média, mais de 24 adolescentes são apreendidos por dia no Ceará. Foram 9.058 apreensões durante o ano de 2015. Os dados fazem parte da estatística da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Se comparado ao número de autos de prisões em flagrantes — foram 26.917 em 2015 —, houve apreensão de um adolescente para cada três prisões de adultos no Ceará.

Segundo o titular da 5ª Vara da Infância e da Juventude de Fortaleza, Manuel Clístenes Façanha e Gonçalves, quando o adolescente em conflito com a lei pratica um delito mais grave, é remetido ao centro socioeducativo (quando a medida é de privação de liberdade), num sistema que tem capacidade para menos de 800 adolescentes, sendo 590 vagas em Fortaleza e 200 no Interior.

Em Fortaleza, os atos infracionais mais comuns praticados por adolescentes são roubo, porte de arma e tráfico de drogas. Dentro dos casos de roubo, estão latrocínio e lesão grave. Estes atos infracionais resultam em privação de liberdade e os jovens que os praticam têm um perfil de 80% de reincidência. “Chega ao absurdo de voltar no outro dia. De ficar internado um ano e meio ou dois anos, ser liberado, permanecer nas ruas 24 horas ou 48 horas e voltar”, relata.

Ele ressalta que há outro perfil de adolescente em conflito com a lei: aquele que comete atos infracionais mais leves, como furto, brigas virtuais (casos de ameaças pela Internet), e não comete novos delitos.
Reincidência

De acordo com Manuel Clístenes, o perfil do adolescente reincidente é de um jovem acima de 15 anos, que vem de classe social baixa (C e E), cuja família ganha até dois salários mínimos. O contexto familiar costuma ser delicado, na ausência do pai e, às vezes, até da mãe. São jovens que ficam expostos à criminalidade devido à ausência de adultos, que saem para trabalhar ao longo dia. O juiz diz que não tem conhecimento de jovens de classe média nos centros socioeducativos do Estado.

Clístenes aponta ainda que 40% dos jovens apenas assinam o nome e 90% largaram os estudos no ensino fundamental. Praticamente todos são dependentes químicos, ele diz. “As famílias dizem que os que traficam drogas ou roubam não levam um real para dentro de casa. O dinheiro não é utilizado para compra de objetos, mas para manter o vício da droga”, afirmou.

O Povo Online