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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Furto da rede de água causa prejuízo de R$100 mi à Cagece

De janeiro de 2013 a dezembro de 2015, a Companhia constatou 5.273 ligações fraudulentas

Em tempo de estiagem e racionamento, apesar das últimas chuvas, diversos consumidores aderem ao famoso "jeitinho brasileiro'" para tentar burlar a lei e adquirir, de forma ilegal, um dos bens mais necessários e estimados: a água. Segundo a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), nos últimos três anos, foram flagrados 5.273 casos de furtos de água, os chamados "gatos". Somente em 2015, foram detectadas 1.336 fraudes, que resultaram em um prejuízo de mais de R$ 100 milhões no ano.

De janeiro de 2013 a dezembro de 2015, equipes da Cagece percorreram mais de 14 mil quilômetros realizando ações de combate a furtos em diversas cidades cearenses. Neste período, foram constatadas 5.273 ligações fraudulentas. O número é o equivalente a 146 casos por mês. Os 1.366 flagrantes feitos no ano passado- média de 113 por mês- foram confirmados após a Companhia investigar encanações fraudulentas em quase cinco mil quilômetros no Estado.

Conforme a Cagece, os locais com maior incidência de furtos de água são Capital e os municípios da Região do Cariri, abastecidos pela bacia hidrográfica do Rio Salgado, principalmente as cidades de Juazeiro do Norte, Barbalha e Várzea Alegre.

A maioria dos casos de furtos são realizados, principalmente, em encanações externas e em hidrômetros, que são os aparelhos medidores do consumo. Em 2015, foram encontradas 1.183 irregularidades desta natureza. O restante dos casos (113) foram fraudes realizadas sob a terra, detectadas somente com o uso de geofones, equipamentos capazes de registrar ondas sísmicas. O gerente do núcleo de Controle de Perdas e Eficiência Energética da Cagece, Luiz Celso Braga, explica que um dos gatos mais comuns é a ligação clandestina, que ocorre quando o fraudador faz uma ligação direta da rede de distribuição da concessionária. Deste modo, o criminoso rouba a água sem qualquer registro e, portanto, sem qualquer cobrança pelo seu uso.

Além das ligações clandestinas, também foram mapeadas fraudes por Derivação de Ramal e By-Pass. No primeiro caso, a pessoa faz uma ligação irregular, usando uma conexão antes da passagem pelo hidrômetro. Assim, a água que passaria totalmente pelo equipamento de medição acaba passando pelo "gato", abastecendo parte da rede de alimentação da propriedade sem a medição. Já no by-pass, o fraudador faz uma conexão fraudulenta também antes da passagem pelo hidrômetro e liga ao ramal predial. Deste modo, a água que passaria totalmente pela micromedição deriva para a conexão irregular e abastece a rede de alimentação da propriedade, sem cobranças.

Crime

Conforme o titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), delegado Jaime de Paula Pessoa Linhares, esses casos de desvio ilegal de água, seja no hidrômetro ou diretamente na rede de distribuição, é caracterizado como crime de furto, previsto no artigo 155 do Código Penal Brasileiro, e tem pena de um a oito anos de reclusão, caso seja caracterizado como qualificado, além de multa.

A Cagece criou um Comitê de Controle de Perdas para tentar frear essa prática. Celso Braga ressalta que estão sendo intensificadas ações no intuito de minimizar prejuízos ocasionados por ligações irregulares. "Estamos realizando um monitoramento em toda a rede de distribuição. Além da fiscalização, foi desenvolvido um aplicativo para receber denúncias".

Transtornos

O engenheiro civil e sanitarista Francisco Vieira Paiva, diretor da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) no Ceará, destaca que quem pratica o furto não tem o controle da água que está sendo gasta. Com isso, pode causar um dano grande ao meio ambiente, provocando, por exemplo, a falta d'água para seu vizinho, rua e até bairro inteiro", pontua o especialista. Francisco Paiva ainda explica que o prejuízo causado pelas fraudes à Cagece resultam em uma cobrança tarifária mais cara. No final, quem acaba pagando a conta é o cidadão.

Mais informações:

Denúncias
Alô Cagece: 0800 2750195
Aplicativo Cagece Mobile

Ellen Freitas
Diário do Nordeste